MENTE INQUIETA

Mente inquieta

Esse blog existe desde março 2009 (o domínio antigo era jayetros.blogspot) e como estamos em 2021 isso significa que ele já tem 12 anos. 12 anos! Eu já fui muitas pessoas aqui, já quis ser muitas pessoas e ás vezes me pego lendo as postagens de um menino de 20 anos cheio de sonhos e traço um paralelo da pessoa que hoje me tornei e fico perguntando a mim mesmo o que o eu daquela época diria para o eu de hoje.

Bem, eu sou o Jay e atualmente tenho 33 anos. Sou fisioterapeuta formado e uma pessoa naturalmente inquieta, questionadora e barraqueira quando tem que ser. Nasci sob o signo de leão e talvez venha daí o meu ser temperamental e dramático. No futuro quando for mudar o layout pela milésima vez talvez essa descrição já seja outra. Num resumo bastante sucinto é isso.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Um fim ou um novo começo?


Escrever sempre foi o meu refugio quando eu passo por alguma situação que foge do meu controle. De certa forma colocar para fora em palavras o que sinto me acalma, é como se minha alma expulsasse de dentro de mim coisas que estão guardadas na minha cabeça.

Já tem mais de um ano que estou em Portugal longe de tudo e todos que eu vivi minha vida inteira e ainda hoje é difícil porque por mais que eu tenha o privilegio de ter minha rede de apoio, a sensação de não pertencimento ainda é muito forte em mim.

Eu comecei trabalhando aqui como empregado de mesa que é uma forma bonita de chamar as pessoas de garçom. No inicio eu achava divertido porque não conhecia ninguém, estava sempre indo em hotéis diferentes e assim ia conhecendo novas histórias e novas pessoas. A medida que o tempo foi passando isso começou a me desgastar porque já não era muito divertida a ideia de estar sempre em lugares diferentes fazendo um serviço que sendo bem sincero nunca gostei (Mas é o que pagava as minhas contas).

Segui assim durante meses até chegar num hotel chamado Eurostars Porto Douro. Segui meu trabalho como sempre foi até que surgiu a oportunidade de ser contratado por lá e assim segui durante nove meses até saber antes de ontem que já não era interessante me ter como um funcionário da casa devido ao meu trabalho que não era o necessário para a demanda de serviço. Fiz grandes amizades lá e a maioria de tudo que eu aprendi foi lá, obviamente não concordo com o feedback que foi me dado porque eu sei que vivendo em outro país é difícil um imigrante permanecer muito tempo no mesmo cargo devido a efetividade que garante direitos trabalhistas. Tenho total consciência do meu trabalho e fiz sempre o melhor que pude e o melhor que conseguia fazer. Permaneço lá até dia 11 de março e só Deus sabe como porque minha vontade é de nem ir mais para lá.

Eu não vou ser hipócrita aqui e dizer que era um trabalho perfeito porque a demanda de trabalho é insana, existe pouca gente para muito serviço e o salário nem é tão bom tendo em vista o que é exigido que se faça. Às vezes, eu tinha que me desdobrar em varias funções que não eram minha obrigação para que ao final do meu horário tudo tivesse sido concluído. Já dobrei meu horário de trabalho chegando a fazer 16 horas consecutivas porque um colega não pode ir ou por qualquer eventualidade que impedisse que eles fossem trabalhar, nunca ouvi um: muito obrigado. Mas, nunca liguei para reconhecimento porque para mim bastava ajudar e talvez ser bom demais para as pessoas tenha sido o motivo pelo qual eu fui descartado.

Eu estou muito mal primeiramente porque a ideia de perder um contrato e ter que voltar a trabalhar como extra em trabalhos temporários não me agrada nem um pouco. Depois acho que houve ingratidão comigo por todo o esforço (em vão) que eu demonstrei durante a minha trajetória lá, mas isso também é culpa minha de achar que eu seria valorizado dentro do capitalismo onde sou só mais um número e onde uma pessoa sai e entra outra em seguida para fazer a mesma função. Não existe consideração quando se trata de dinheiro e interesse pessoais envolvidos, nisso eu assumo completamente meu erro.

Mesmo sabendo de todas essas informações eu não tenho como não me sentir mal e agora ao invés de ficar me lamentando eu tento ver pela ótica de que não há nada que possa ser feito e é como é, são assim que as coisas funcionam e talvez a vida esteja tentando me tirar de uma zona de conforto para que eu possa viver outras coisas. Não sei. Tudo é muito incerto.

Uns tempos atras tinha ido numa cartomante que me disse que esse ciclo se fecharia, mas que tinha algo muito bom a minha espera, então, não posso dizer que essa notícia é necessariamente uma surpresa porque de fato não era. Talvez tudo isso seja Deus me tirando de um ambiente toxico, mas quando estamos feridos não conseguimos enxergar além, eu mesmo só tenho vontade de chorar e me sinto burro por ter dado tanto de mim, por ter ajudado tanto, mas ao mesmo tempo eu sou essa pessoa, não sei se teria como ser diferente.

Preciso focar no meu processo de cura porque de qualquer forma isso não é algo que eu quero para minha vida toda porque eu sei meu valor e sei que isso não é minha trajetória de vida, isso é apenas um pedaço da minha história e eu sinto no meu coração com toda a certeza da minha vida que vou ser grande e não vai ser aprisionado dentro de um hotel fazendo drinks ou servindo pessoas que vou realizar o que quero. O futuro a Deus pertence, de minha parte vou buscar outras possibilidades de ganhar dinheiro. Se for necessário volto a ser extra mesmo contra a minha vontade, enquanto não arrumo outro trabalho ou começo em outro hotel da rede (que foi me prometido ao assinar minha rescisão).

 

Adendo: Foi me prometido de comum acordo que eu iria para outro hotel da rede, um menor já que eu reclamava da alta demanda de serviço e eles não gostavam do meu trabalho (que eu só soube no ato da rescisão porque em nove meses ninguém me deu um feedback) a questão é que eu só posso ir depois que a funcionária formalizar a demissão dela, coisa que não fez até hoje então existe um inercia de tempo entre ela sair (se sair) e eu entrar na vaga que ela deixa para trás. Obviamente, apesar de me falarem que isso é algo certo eu não vou ficar esperando e fazer do atraso do outro a minha pressa.

 

Voltando...

Então, como já é habitual desse blog só escrever quando estou mal essa é mais uma daquelas situações da qual eu me sinto perdido (para variar), eu falo me sentir, mas até hoje desde 2009 eu nem sei se me encontrei. Eu estou deprimido, estou decepcionado, me senti usado, vez ou outro choro de decepção, minha energia está em baixa, mas passa, tudo passa. Fico triste por deixar meus amigos para trás, mas quem for meu amigo de verdade continua mesmo além do trabalho e tenho de seguir (Todo mundo tem de seguir) ficar chorando e me lamentando não vai levar a nada. Preciso me reinventar como fiz tantas vezes na minha vida e seguir em frente. Não quero viver refém de uma situação que “poderia ter sido”, se fosse o contrario estaria aconselhando um amigo a não se deixar abater e buscar novas possibilidades então esse é um conselho meu para mim mesmo e espero que quando eu volte aqui daqui há algum tempo e releia esse momento obscuro pelo qual estou passando eu tenha a sensação de que: EU CONSEGUI.

Eu não vou cuspir no prato que me sustentou durante meses e nem vou ser hipócrita de dizer que foi tudo incrível porque apesar de conhecer amigos incríveis ainda assim foi e tem sido difícil porque lá eu sempre quis ser eu e eu não conseguia ser eu, eu tentava falar com as pessoas, as pessoas viraram a cara para mim, nesses nove meses que passei trabalhando lá eu fui do céu ao inferno e voltei. Eu me senti a própria Juliette porque se eu chorasse era vítima, era frágil, se engolisse o choro era brabo, irredutível, se eu gritasse era doido e se eu falasse de algo que não estava correto em relação ao tratamento de outro colega era inveja, se eu apontasse algo por conta da xenofobia intrínseca eu estava sendo exagerado. Lá brincaram com minha fé, com minha autoestima, com as minhas ideologias, brincaram com tudo e eu me senti sozinho sem poder chorar porque não queria envolver meus amigos e sabia que iam querer me colocar numa posição de vítima. Mas, enfim...

Vamos ver, por hora tenho que respeitar meu momento e respeitar também o que sinto. Deus sabe de tudo. Eu não posso deixar minhas histórias, minhas dores e minhas cicatrizes falarem pela minha vida. Desde o dia que eu pisei o pé em Portugal eu tive a certeza dentro do meu coração que o que vai acontecer aqui é o melhor para mim e o melhor acontece exatamente como tem que acontecer.

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