Escrever sempre foi o meu refugio quando eu passo por alguma situação que foge do meu controle. De certa forma colocar para fora em palavras o que sinto me acalma, é como se minha alma expulsasse de dentro de mim coisas que estão guardadas na minha cabeça.
Já tem mais de um ano que estou em Portugal longe de tudo e
todos que eu vivi minha vida inteira e ainda hoje é difícil porque por mais que
eu tenha o privilegio de ter minha rede de apoio, a sensação de não pertencimento
ainda é muito forte em mim.
Eu comecei trabalhando aqui como empregado de mesa que é uma
forma bonita de chamar as pessoas de garçom. No inicio eu achava divertido
porque não conhecia ninguém, estava sempre indo em hotéis diferentes e assim ia
conhecendo novas histórias e novas pessoas. A medida que o tempo foi passando
isso começou a me desgastar porque já não era muito divertida a ideia de estar
sempre em lugares diferentes fazendo um serviço que sendo bem sincero nunca
gostei (Mas é o que pagava as minhas contas).
Segui assim durante meses até chegar num hotel chamado
Eurostars Porto Douro. Segui meu trabalho como sempre foi até que surgiu a
oportunidade de ser contratado por lá e assim segui durante nove meses até
saber antes de ontem que já não era interessante me ter como um funcionário da
casa devido ao meu trabalho que não era o necessário para a demanda de serviço.
Fiz grandes amizades lá e a maioria de tudo que eu aprendi foi lá, obviamente
não concordo com o feedback que foi me dado porque eu sei que vivendo em outro
país é difícil um imigrante permanecer muito tempo no mesmo cargo devido a efetividade
que garante direitos trabalhistas. Tenho total consciência do meu trabalho e
fiz sempre o melhor que pude e o melhor que conseguia fazer. Permaneço lá até
dia 11 de março e só Deus sabe como porque minha vontade é de nem ir mais para
lá.
Eu não vou ser hipócrita aqui e dizer que era um trabalho
perfeito porque a demanda de trabalho é insana, existe pouca gente para muito
serviço e o salário nem é tão bom tendo em vista o que é exigido que se faça. Às
vezes, eu tinha que me desdobrar em varias funções que não eram minha obrigação
para que ao final do meu horário tudo tivesse sido concluído. Já dobrei meu horário
de trabalho chegando a fazer 16 horas consecutivas porque um colega não pode ir
ou por qualquer eventualidade que impedisse que eles fossem trabalhar, nunca
ouvi um: muito obrigado. Mas, nunca liguei para reconhecimento porque para mim
bastava ajudar e talvez ser bom demais para as pessoas tenha sido o motivo pelo
qual eu fui descartado.
Eu estou muito mal primeiramente porque a ideia de perder um
contrato e ter que voltar a trabalhar como extra em trabalhos temporários não
me agrada nem um pouco. Depois acho que houve ingratidão comigo por todo o
esforço (em vão) que eu demonstrei durante a minha trajetória lá, mas isso
também é culpa minha de achar que eu seria valorizado dentro do capitalismo
onde sou só mais um número e onde uma pessoa sai e entra outra em seguida para
fazer a mesma função. Não existe consideração quando se trata de dinheiro e
interesse pessoais envolvidos, nisso eu assumo completamente meu erro.
Mesmo sabendo de todas essas informações eu não tenho como
não me sentir mal e agora ao invés de ficar me lamentando eu tento ver pela
ótica de que não há nada que possa ser feito e é como é, são assim que as
coisas funcionam e talvez a vida esteja tentando me tirar de uma zona de
conforto para que eu possa viver outras coisas. Não sei. Tudo é muito incerto.
Uns tempos atras tinha ido numa cartomante que me disse que
esse ciclo se fecharia, mas que tinha algo muito bom a minha espera, então, não
posso dizer que essa notícia é necessariamente uma surpresa porque de fato não
era. Talvez tudo isso seja Deus me tirando de um ambiente toxico, mas quando
estamos feridos não conseguimos enxergar além, eu mesmo só tenho vontade de
chorar e me sinto burro por ter dado tanto de mim, por ter ajudado tanto, mas
ao mesmo tempo eu sou essa pessoa, não sei se teria como ser diferente.
Preciso focar no meu processo de cura porque de qualquer
forma isso não é algo que eu quero para minha vida toda porque eu sei meu valor
e sei que isso não é minha trajetória de vida, isso é apenas um pedaço da minha
história e eu sinto no meu coração com toda a certeza da minha vida que vou ser
grande e não vai ser aprisionado dentro de um hotel fazendo drinks ou servindo
pessoas que vou realizar o que quero. O futuro a Deus pertence, de minha parte
vou buscar outras possibilidades de ganhar dinheiro. Se for necessário volto a
ser extra mesmo contra a minha vontade, enquanto não arrumo outro trabalho ou
começo em outro hotel da rede (que foi me prometido ao assinar minha rescisão).
Adendo: Foi me prometido de comum acordo que eu iria para
outro hotel da rede, um menor já que eu reclamava da alta demanda de serviço e
eles não gostavam do meu trabalho (que eu só soube no ato da rescisão porque em
nove meses ninguém me deu um feedback) a questão é que eu só posso ir depois
que a funcionária formalizar a demissão dela, coisa que não fez até hoje então
existe um inercia de tempo entre ela sair (se sair) e eu entrar na vaga que ela
deixa para trás. Obviamente, apesar de me falarem que isso é algo certo eu não
vou ficar esperando e fazer do atraso do outro a minha pressa.
Voltando...
Então, como já é habitual desse blog só escrever quando
estou mal essa é mais uma daquelas situações da qual eu me sinto perdido (para
variar), eu falo me sentir, mas até hoje desde 2009 eu nem sei se me encontrei.
Eu estou deprimido, estou decepcionado, me senti usado, vez ou outro choro de
decepção, minha energia está em baixa, mas passa, tudo passa. Fico triste por
deixar meus amigos para trás, mas quem for meu amigo de verdade continua mesmo
além do trabalho e tenho de seguir (Todo mundo tem de seguir) ficar chorando e
me lamentando não vai levar a nada. Preciso me reinventar como fiz tantas vezes
na minha vida e seguir em frente. Não quero viver refém de uma situação que “poderia
ter sido”, se fosse o contrario estaria aconselhando um amigo a não se deixar
abater e buscar novas possibilidades então esse é um conselho meu para mim
mesmo e espero que quando eu volte aqui daqui há algum tempo e releia esse
momento obscuro pelo qual estou passando eu tenha a sensação de que: EU
CONSEGUI.
Eu não vou cuspir no prato que me sustentou durante meses e
nem vou ser hipócrita de dizer que foi tudo incrível porque apesar de conhecer
amigos incríveis ainda assim foi e tem sido difícil porque lá eu sempre quis
ser eu e eu não conseguia ser eu, eu tentava falar com as pessoas, as pessoas viraram
a cara para mim, nesses nove meses que passei trabalhando lá eu fui do céu ao
inferno e voltei. Eu me senti a própria Juliette porque se eu chorasse era vítima,
era frágil, se engolisse o choro era brabo, irredutível, se eu gritasse era
doido e se eu falasse de algo que não estava correto em relação ao tratamento
de outro colega era inveja, se eu apontasse algo por conta da xenofobia intrínseca
eu estava sendo exagerado. Lá brincaram com minha fé, com minha autoestima, com
as minhas ideologias, brincaram com tudo e eu me senti sozinho sem poder chorar
porque não queria envolver meus amigos e sabia que iam querer me colocar numa
posição de vítima. Mas, enfim...
Vamos ver, por hora tenho que respeitar meu momento e
respeitar também o que sinto. Deus sabe de tudo. Eu não posso deixar minhas
histórias, minhas dores e minhas cicatrizes falarem pela minha vida. Desde o
dia que eu pisei o pé em Portugal eu tive a certeza dentro do meu coração que o
que vai acontecer aqui é o melhor para mim e o melhor acontece exatamente como
tem que acontecer.
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