MENTE INQUIETA

Mente inquieta

Esse blog existe desde março 2009 (o domínio antigo era jayetros.blogspot) e como estamos em 2021 isso significa que ele já tem 12 anos. 12 anos! Eu já fui muitas pessoas aqui, já quis ser muitas pessoas e ás vezes me pego lendo as postagens de um menino de 20 anos cheio de sonhos e traço um paralelo da pessoa que hoje me tornei e fico perguntando a mim mesmo o que o eu daquela época diria para o eu de hoje.

Bem, eu sou o Jay e atualmente tenho 33 anos. Sou fisioterapeuta formado e uma pessoa naturalmente inquieta, questionadora e barraqueira quando tem que ser. Nasci sob o signo de leão e talvez venha daí o meu ser temperamental e dramático. No futuro quando for mudar o layout pela milésima vez talvez essa descrição já seja outra. Num resumo bastante sucinto é isso.

domingo, 24 de abril de 2011




A escrita foi sempre aquela que acreditou em mim, que me escutou, me executou e me calou. Foi através dela que me descobri. Escrevia em meus inúmeros diários a inexplicável vida cotidiana. A incompreensão da doença, da morte e do amor. Rabiscava nas paredes, nas janelas, no sofá, nos cadernos e nas memórias partes de uma história que aquele menino construía com o passar dos dias.
Meu pai foi um advogado de uma pequena cidade chamada  Igarassu, perto de Recife. No meu batizado ele não estava presente, nem nele, nem na minha vida. O pequeno branquinho de olhos castanhos e sobrancelhas pretas chegara para iluminar a família Melo. Mas como as coisas nem sempre dão certo...
Fui o primeiro filho a nascer. O primeiro de três homens, único a nascer em casa, todas os outros foram de hospital.
Vovó foi uma mulher invejável. Loira de olhos claros. Sofreu uma grave seqüela num acidente de carro — um rim secou — e ela ficou dezessete anos fazendo hemodiálise. Passei minha infância acompanhando-a em hospitais. O hospital era meu livro preferido, aprendi tanto que as aulas que perdia não me faziam falta. A vida não estava numa sala de aula e a morte também não estava num hospital.
Sete anos após meu nascimento a família do meu pai não agüentou mais o tranco e acabaram indo me ver. Fiquei só, uma criança a espera de um pai. Vovó reativou as forças, cuidou de mim e eu dela. Fomos amigos, colegas e parceiras do destino. Seguramos a barra e crescemos juntos. Encontrava minha felicidade num pequeno palco que tinha na esquina da minha rua. Adorava observar a vida através dos artistas e crianças, aquele misto de alegria e melancolia me fascinava. Era minha leitura diária.
Aos nove anos comecei a entender o que era tudo aquilo ao meu redor. Afinal, desde que papai faleceu a verdade era maquiada. Vivi numa família feliz, mas que nem sempre tinha tudo. Minha felicidade consistia em ir para o quarto vestir roupas e fazer meu circo em casa mesmo e deixar o pessoal louco de tanto dar risada... Era o verdadeiro palhaço... Dos meus olhos lágrimas escorriam ao ver vovó sorrir tanto... Então aos nove comecei a escrever tudo que sentia e minha avó com tanto carinho guardava. Apesar de ter meus carrinhos, meus bonecos,( brincar até dizer chega) O mundo dos adultos me fascinava mais. E eu criava sempre meus shows através das histórias que ouvia. Dizia para mim mesmo que era hora de refletir, descer das árvores... Afinal, eu era um menino e não um macaco. -Vá para dentro e trate de cuidar do seu futuro.”

Enfim, aos doze já estudava no colégio da policia militar, pois sempre estudei nos melhores colégios... As contas de casa, os medicamentos que vovó tinha que tomar... Fui virando adulto rápido, tendo a criança nítida nos meus olhos...
Lembro-me da primeira peça que fiz. Cheguei em casa pulando de alegria. Queria muito poder fazer minha avó sentir orgulho de mim. Lembro que minhas pernas eram bem gordinhas e minha mãe  me dava óleo de fígado de bacalhau para ver se eu desenvolvia . Nesse época minha avó foi ficando mais fraca e eu na batalha tentando descobrir o que fazer para ajudá-la . Curá-la ? Impossível ..., então saborear os últimos dias ao seu lado tentando fazê-la mais feliz... com um neto tão tagarela ao seu lado... E fiz... Segui minha avó. Onde tivesse música eu a arrastava para dançar. Sempre fui muito bom de papo. Vovó costumava dizer que eu traria o seu sorriso de volta, brilhando nos palcos da vida. Sempre soube que dentro de mim o artista existia constantemente... e que um dia eu iria para bem longe resgatar tudo... ou achar a arte de alguma forma em mim.
Acho que por isso sempre tive a certeza que o palco seria meu companheiro neste espetáculo da vida.
Quando estava prestes a estrear a primeira peça importante da minha vida,vovó faleceu.  Achei que meu espetáculo tinha acabado, mas peça acabara de começar. Coloquei tudo dentro do meu coração, caminhei do Prado até a Rua do Lima, sem maestro, sem orquestra, sozinho e silencioso.

MUDA, espaço de grandes realizações. Espaço dos meus sonhos. Cheguei em 2010, como inseto lá do interior. Inquieto como sempre. Lembro-me de estar vagando, indo de um lugar para o outro, parando às vezes o tempo suficiente para perceber que a perplexidade das outras pessoas era maior que a minha. E Jorge sempre a me chamar de doido.
Comecei a ensaiar a peça, chorei muito, e assim comecei a delinear a minha história. Sozinho e insensato me joguei no trabalho .Uma nova vida ,um novo ato começara. A estréia foi um sucesso, a duas temporadas foram um sucesso, pela primeira vez na vida as pessoas me parabenizavam por um trabalho, e eu sentia orgulho, senti sim, por saber que pela primeira vez na vida estava fazendo a coisa certa. Hoje em dia, eu continuo a trilhar meu caminho com muita dedicação, humor e humildade. É bem verdade que escuto as piores coisas possíveis, que as pessoas perdem a paciência com a minha falta de atenção, mas que no fundo elas confiam em mim e sabem que na hora de enfrentar os refletores, eu sou mais que eu,sou outra pessoa, eu sou uma diva, eu brilho e minha avó vê tudo e se orgulha de mim, eu sinto.  Esteja onde estiver vovó, saiba que eu te amo muito e sinto saudades. Queria um abraço seu agora. Te Amo.

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