MENTE INQUIETA

Mente inquieta

Esse blog existe desde março 2009 (o domínio antigo era jayetros.blogspot) e como estamos em 2021 isso significa que ele já tem 12 anos. 12 anos! Eu já fui muitas pessoas aqui, já quis ser muitas pessoas e ás vezes me pego lendo as postagens de um menino de 20 anos cheio de sonhos e traço um paralelo da pessoa que hoje me tornei e fico perguntando a mim mesmo o que o eu daquela época diria para o eu de hoje.

Bem, eu sou o Jay e atualmente tenho 33 anos. Sou fisioterapeuta formado e uma pessoa naturalmente inquieta, questionadora e barraqueira quando tem que ser. Nasci sob o signo de leão e talvez venha daí o meu ser temperamental e dramático. No futuro quando for mudar o layout pela milésima vez talvez essa descrição já seja outra. Num resumo bastante sucinto é isso.

sábado, 18 de fevereiro de 2012





Cada dia tenho mais a certeza do quanto é difícil ser ator e fazer teatro principalmente. Aliás, difícil é um elogio! É preciso muito jogo de cintura. Isso não é nenhuma desculpa porque acredito eu, que nenhuma profissão seja fácil (se alguém acha que a sua é, tem algum problema aí no meio). Se acham que estou mentindo pergunte a um empresário como é sua vida, a uma dona de casa, a um advogado, etc. Com toda a certeza do mundo eles vão ter muitas horas de comentários do quanto a profissão deles não tem nada de mole. Porém, a cada dia que passa eu vejo o quanto é arriscado escolher se voltar para a “milenar” arte da interpretação, principalmente a voltada para o teatro, porque a palavra “ator” carrega muitos sentidos socialmente e muitos deles não são agradáveis.  
Tudo isso começa em casa (me refiro à família em geral), quando a gente decide revelar à carreira que quer seguir. O que mais se ouve é: “E precisa estudar? É só decorar o texto!” São dias, manhãs, tardes, noites e muitas vezes madrugadas de ensaios para as apresentações  que seguem em temporada. Isso sem contar com os famosos fins de semanas e/ou noites após a sua aula ou seu emprego de “verdade” – e é tido, em geral, como alguém com muitas atividades para preencher o tempo, afinal, teatro é hobby, serve como “terapia”. Para muitos, a pessoa que decide ser ator é tida como deslumbrada, estranha, vadia, preguiçosa, drogada, não tem coragem de ser adulto e nem capacidade para encarar um “trabalho de verdade” e fica fazendo “essa merda de teatro” que não dá dinheiro. Em palavras menos agressivas o que mais se escuta é que somos sonhadores e que isso é uma fase, uma hora vamos nos cansar e partir para outra coisa.                                                                                                                                       
O melhor de tudo isso são os clichês dos familiares que decidem não nos julgar ou nos poupar:                 

“Nossa! A gente que te ver na novela das oito da Globo viu?”                                                                                           

“Já imaginaste tu no arquivo confidencial no Faustão”                                                                                              

“Ah! Rapaz meu amigo é muito bom, ele vai ganhar um Oscar!”                                                                     

Acredito que isso não seja impossível de acontecer, para Deus nada é impossível. Mas se esse dia chegar (E se é que chega!) o amanhã soa como um fracasso já que nada disso acontece rápido e é preciso uma dose bem reforçada de sorte e “estar no lugar certo e com a pessoa certa”. Quando isso não acontece depois de um certo tempo, tende-se a ficar com a imagem de artista decadente, marginal do teatro como muitos falam.  E mesmo após reuniões, ensaios, estudos, desenvolvimento do corpo e voz, grosseria do diretor, mau humor do colega de cena que acha que sabe demais e faz pouco caso do trabalho do outro (o que acontece muito!), pegar cenário, montar cenário, desmontar cenário. Ainda falam com um ar de superioridade por conta do seu ‘emprego convencional” que ator não trabalha, é frescura! Coisa de viado e de puta.                                                                                                                                            
Mas é claro que não trabalhamos! Nããããão... Fazer peças, temporadas, participar de festivais, apresentações, ensaiar onde der, deixar de se divertir, muitas vezes de dormir pensando na melhor maneira de trabalhar a personagem, derramar litros de lágrimas e suor, ficar com o corpo dolorido pelo esforço físico, com as mãos cheias de calo e a cabeça doída pelo esforço psicológico imposto pela direção e por você mesmo com a necessidade de sempre, planejar, ousar, tentar, criar, se superar... O pior de tudo é que muitas vezes todo esse esforço não é remunerado, você sabe desde o começo que vai fazer tudo de graça, e a recompensa é a “visibilidade”. 
Mas é claro que isso não é trabalho! É hobby, deslumbramento, rebeldia adolescente com os pais! Um joguinho. É o emprego marginalizado, é a síndrome de Peter Pan! O emprego de verdade é aquele que você esta fardado ou então de terno e gravata, trancafiado dentro de um escritório, por exemplo.  Teatro só presta quando se aparece na TV, num filme. Teatro de palco, linóleo preto, bilheteria, é bonito de ver, engraçado, mas não é trabalho. Desde que não prejudique o ‘trabalho de verdade” tá valendo.   Compreendo que escolher ser ator é um trabalho, uma escolha difícil e arriscada, mas que me proporciona uma satisfação que só entende quem faz.  O que eu desejo é que as pessoas abram os olhos e percebam que é (repito) que é uma profissão como qualquer outra e temos que ser remunerados por isso. Proporcionamos alegria e emoção para o publico que paga para ver algo de qualidade.  Quem sabe assim a sociedade reflita e perceba que não é grande e bem sucedido só o ator(a) que esta na mídia e sim todos que encaram o preconceito de uma sociedade inteira e encaram fazer um trabalho com dedicação, respeito e garra.

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